quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Despedida e saudade...

(Crônica escrita por Ricardo Molina, meu esposo, horas antes do falecimento de seu querido tio, Elson de Souza)

Naquela manhã, eu e meus familiares acordamos cedo, vestimos nossas melhores roupas e passamos nossos perfumes como se estivéssemos indo à uma festa. Acordamos todas as crianças que estavam na casa para que pudéssemos levar para a GRANDE ESTAÇÃO, de chegadas e partidas, nosso querido e amado tio, pai, esposo e irmão. Ele estava de partida e já havia planejado a tempo esta viagem, mas não podia levar ninguém.


Neste tempo de planejamento ele deixou tudo conforme desejava. Havia muita resistência de nossa parte, bem como de sua esposa e suas duas filhas, pois, não seria nada fácil ficar longe de quem tanto nos ensinou o significado da palavra amor e, com sua vida, nos ensinou a amar. Para que esse dia chegasse, ele nos preparou por muito tempo e com muita alegria, o que nunca lhe faltava. Porém os seus braços já estavam cansados, pois, sua vida foi de muito trabalho fadiga, suor e dor. Porém essa fase ele já havia cumprido muito bem. O que realmente nosso coração quer, é sempre ficar ao lado de quem amamos, por isso a partida já estava em nosso subjetivo, mas não em nossa razão.


Bom, chegou a hora. Meu tio entrou naquele enorme trem. No último vagão, na última poltrona, de numero 13, que ficava do lado esquerdo, pois, nessa posição poderíamos acompanhá-lo até perder de vista. Minha tia ganhou um lindo buquê de flores, um beijo de até logo e um bilhete que dizia: “De todas as flores você é a mais bela, nada se compara ao seu cheiro e ao seu amor. Obrigada pelo cuidado e pelo amor recebido. Deus te abençoe. Seu Amado”. Suas filhas receberam um abraço apertado, um cheiro e um recado: “Cuide da nossa família com amor”. Então, nós recebemos um sorriso maroto, um piscar de olhos que dizia “estou indo nessa, obrigada pelo carinho”.


Ficamos todos olhando sem piscar, ele entrar no trem, ajeitar suas bagagens, sentar-se na última poltrona e, sorrindo, abanar suas mãos. As lágrimas já corriam em nossos olhos, e sem que pudéssemos dar conta, as portas do trem se fecharam.
O maquinista deu a partida, soltou a fumaça e começou a andar. Nós andávamos junto com ele, para que pudéssemos expressar a satisfação em viver com alguém tão fascinante, encantadora e amada. O trem começou a ganhar velocidade... e nós corríamos até onde conseguíamos... e víamos nosso amado partindo. As mãos abanando de saudade, daquele que deixou nossas vidas marcadas para sempre.


Em nosso coração temos a certeza de que um dia este trem não partirá mais levando os amados, pois o Senhor da Vida nos dará, em seu tempo, uma vida sem dor, choro e lágrimas. O trem será vencido, e nós encontraremos todas as pessoas amadas que serviram e servirão nosso Senhor neste lugar chamado Reino de Deus.


Em nosso último encontro ele me ensinou algo para a vida toda, que é: “Não existe um Por que, e sim, para quê”. Agora digo, se for para lembrarmos com alegria, já valeu a pena.


Sentiremos saudade. Lembraremos-nos sempre com alegria.


Com amor, lágrimas, alegria e saudade...


Ricardo Molina - São Paulo, 18 de Fevereiro de 2009. (01:00 am)