terça-feira, 28 de abril de 2009

Jornalistas ensinam jornalistas

Em qualquer profissão reciclar e aprender deve ser alvo de busca constante. Ninguém nasce sabendo e, provavelmente, não morrerá sabendo tudo.
Acabo de me formar em jornalismo e ainda sei muito, muito pouco sobre o que é o jornalismo e o ser jornalista. Enquanto um curso de maior especialidade não chega, como pós e mestrado, procuro na internet tudo o que é fiel à profissão e pode me ajudar neste "limbo"entre ex-estudante e futuro profissional.

A Abraji, Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, realiza um curso online sobre Desenvolvimento Humano para Jornalistas, e está em sua décima terceira edição. Eis aí algo sério, não apenas pelo tema, mas pela seriedade em que o assunto é tratado, principalmente com jornalistas que, a grosso modo, fala por último o que foi falado primeiro em vários cantos.

Como profissionais, reproduzimos palavras, imagens, atitudes e decisões importantes para a sociedade. Saber interpretar essas informações e os dados que surgem de diversas discusões acerca da sociedade é um dever do profissional que se julga gabaritado para exercer a função.

O Desenvolvimento Humano é, ou deveria ser, uma das informações que mais precisam de zêlo e coerência nas apurações. Passar batido nesses dados, sem aprofundar qualquer conhecimento à população, é tornar pessoas que são representadas por números, em meros números.

Um curso que não apenas ensina como fazer matérias sobre desenvolvimento humano, mas cria no profissional de jornalismo a consciênca de fazer mais do que meramente reproduzir erros e dados fraudados. Quem tem a capacidade de entender e se fazer entendido, tem o poder de se defender e defender a sociedade.

Parabéns à Abraji pela iniciativa e aos jornalistas que se permitem aprender sempre.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Crime é crime


Na semana passada, ao voltar para casa depois de buscar a Anita na escola, eu e meu esposo fomos surpreendidos com uma cena que, embora inseridos na zona leste, nos é pouco comum.

Segundo os populares que se aglomeravam na avenida que dá acesso à nossa rua, e também na própria rua, a pouco acontecera um assalto a uma agência dos Correios e o meliante morreu momentos depois de ser atingido com dois tiros.

A muvuca era realmente grande. Quando entramos na rua de nossa casa, vimos alguns policiais militares conversando com funcionários dos Correios e com o autor dos disparos. Este era um policial civil que estava no local na hora e que o garoto, armado, anunciou o assalto.

Em seu papel de policial e investido de autoridade para fazê-lo, o homem grisalho que não estava em atividade naquele momento, anunciou que era policial e deu voz de prisão ao bandido. 

Tudo isso, claro, segundo as "testemunhas"que encontramos na rua enquanto caminhávamos para casa. Essas testemunhas contaram, ainda, que ao ser surpreendido pelo policial a paisana, o assaltante desistiu da ação e saiu correndo da agência, correndo para a avenida.

O policial civil foi atrás do garoto, de 15 anos, que por não parar levou 2 tiros nas costas e, depois de insistir um pouco, caiu na calçada, desacordado.

O resgate e a polícia foram acionados. O policial que disparou contra o ladrão ficou no local do assalto até a PM chegar. Depois de alguns depoimentos ele foi liberado.

Nós vimos o policial civil... ele estava com uma blusa do "Barracuda", um bar+balada que fica na região da Penha (ZL) e dirigia uma van de "quitutes"(salgados e afins). Talvez o ramo não seja tão rendável para se ter apenas uma atividade.

No caminho conversamos com comerciantes da região, com moradores... cada um tinha uma olhar sobre o ocorrido. Para os comerciantes, foi algo positivo, afinal era um delinquente a menos para atrapalhar o dia-a-dia de pesseos honestas e trabalhadoras.

Mas uma opinião diferente ressoou... Um jovem, de vinte e poucos anos, com um estilo skate e punk rock, estava atordoado com a idéia de que um policial matou uma pessoa, sem ofelhecer o direito de rendimento. Para ele, a autoridade do civil era de render o bandidinho e o prender, dando, ainda, o direito de ter uma advogado e um telefonema, que possivelmente seria para a própria mãe.

A mãe do garoto, delinquente, bandido, ladrão, asaltante e, agora, difunto, não recebeu a ligação do próprio filho e não ouviu sua voz arrependida, dizendo que nunca mais faria aquilo.

Poderíamos pensar que esse muleque estraria na Fundação Casa arrependido e sairia de lá um profissional do crime. Mas só poderíamos pensar, já que a sorte já foi lançada.

Prefiro pensar que o muleque tentou uma primeira vez aquilo que "os manos" ja tinham feito e se deram bem... Prefiro pensar que ele mesmo acreditou: "comigo vai dar certo também, nem preciso atirar".

Pensando bem, não quero pensar, não quero lembrar... eu não o conhecia... foi só mais um crime... menos um, menos esperança... nada de tolerância.

terça-feira, 17 de março de 2009

Adaptação


Atualmente, escolas infantis e creches trabalham com o processo progressivo de aceitação da criança na escola, a chamada adaptaçã0. Este processo visa o total conforto e afinidade da criança, normalmente entre 1 e 3 anos, diante da nova situação de ficar o dia inteiro, ou parte dele, longe de seus pais ou avós, babás e tias que antes o assumiam dentro de seu refúgio seguro - o lar.

Digo "atualmente", porque na época em que entrei na chamada escolinha, que era uma creche pública, minha mãe conta que a "adaptação" era no susto. Um dia você estava em casa, no outro, na escolinha.
                                                                                                                                  
Este método de familiarização da criança com o novo ambiente me parece muito proveitoso. Vivi essa experiência na semana passada. Anita, minha filha de 2 anos e 8 meses, foi à creche (pública, assim como eu, 23 anos atrás) pela primeira vez. Foi a insistência dela que me motivou a colocá-la em um lugar onde a maioria das pessoas que a cercam têm a mesma idade que a sua.

Normalmente, a televisão era a principal, e muitas vezes, única companhia dentro de casa. Os afazeres nem sempre dividem espaço com a atenção que crianças dessa idade necessitam.

E lá fomos nós duas para o primeiro dia de aula. Ela ficaria 2 horas dentro da sala de aula em minha companhia. Para minha felicidade, e das professoras, ela se deu muito bem e sequer chorou quando me ausentei um pouco. 

No segundo dia fui acreditando que seria mais uma aula em que eu estaria presente, agora por 4 horas. A adaptação da Anita foi excelente. Fiquei 30 minutos aguardando na secretaria, e depois disso a professora disse que eu poderia ir e buscá-la no horário combinado, ainda dentro do período de adaptação.

Voltei sozinha.

Aí, começou a adaptação.

Minha filha estaria em seu ambiente propício. Aprendendo, se desenvolvendo, convivendo em sociedade de forma sadia, brincando e se divertindo muito.

E eu? Eu voltaria pra casa, para os afazeres que antes não me davam tempo para curti-la.

Voltei caminhando... Agora quem precisava de adaptação era a mãe que não via a hora de fazer a vontade da filha e, que agora, estava com uma saudade enorme. Mas as horas passam... Tal como um filho que espera anciosamente a chegada do pai e da mãe, eu estava contando os minutos para buscar a minha filhinha. Para minha surpresa e alegria, ela correu aos meus braços e disse: "Eu gotei. Gotei muito da colinha, mamãe".

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Despedida e saudade...

(Crônica escrita por Ricardo Molina, meu esposo, horas antes do falecimento de seu querido tio, Elson de Souza)

Naquela manhã, eu e meus familiares acordamos cedo, vestimos nossas melhores roupas e passamos nossos perfumes como se estivéssemos indo à uma festa. Acordamos todas as crianças que estavam na casa para que pudéssemos levar para a GRANDE ESTAÇÃO, de chegadas e partidas, nosso querido e amado tio, pai, esposo e irmão. Ele estava de partida e já havia planejado a tempo esta viagem, mas não podia levar ninguém.


Neste tempo de planejamento ele deixou tudo conforme desejava. Havia muita resistência de nossa parte, bem como de sua esposa e suas duas filhas, pois, não seria nada fácil ficar longe de quem tanto nos ensinou o significado da palavra amor e, com sua vida, nos ensinou a amar. Para que esse dia chegasse, ele nos preparou por muito tempo e com muita alegria, o que nunca lhe faltava. Porém os seus braços já estavam cansados, pois, sua vida foi de muito trabalho fadiga, suor e dor. Porém essa fase ele já havia cumprido muito bem. O que realmente nosso coração quer, é sempre ficar ao lado de quem amamos, por isso a partida já estava em nosso subjetivo, mas não em nossa razão.


Bom, chegou a hora. Meu tio entrou naquele enorme trem. No último vagão, na última poltrona, de numero 13, que ficava do lado esquerdo, pois, nessa posição poderíamos acompanhá-lo até perder de vista. Minha tia ganhou um lindo buquê de flores, um beijo de até logo e um bilhete que dizia: “De todas as flores você é a mais bela, nada se compara ao seu cheiro e ao seu amor. Obrigada pelo cuidado e pelo amor recebido. Deus te abençoe. Seu Amado”. Suas filhas receberam um abraço apertado, um cheiro e um recado: “Cuide da nossa família com amor”. Então, nós recebemos um sorriso maroto, um piscar de olhos que dizia “estou indo nessa, obrigada pelo carinho”.


Ficamos todos olhando sem piscar, ele entrar no trem, ajeitar suas bagagens, sentar-se na última poltrona e, sorrindo, abanar suas mãos. As lágrimas já corriam em nossos olhos, e sem que pudéssemos dar conta, as portas do trem se fecharam.
O maquinista deu a partida, soltou a fumaça e começou a andar. Nós andávamos junto com ele, para que pudéssemos expressar a satisfação em viver com alguém tão fascinante, encantadora e amada. O trem começou a ganhar velocidade... e nós corríamos até onde conseguíamos... e víamos nosso amado partindo. As mãos abanando de saudade, daquele que deixou nossas vidas marcadas para sempre.


Em nosso coração temos a certeza de que um dia este trem não partirá mais levando os amados, pois o Senhor da Vida nos dará, em seu tempo, uma vida sem dor, choro e lágrimas. O trem será vencido, e nós encontraremos todas as pessoas amadas que serviram e servirão nosso Senhor neste lugar chamado Reino de Deus.


Em nosso último encontro ele me ensinou algo para a vida toda, que é: “Não existe um Por que, e sim, para quê”. Agora digo, se for para lembrarmos com alegria, já valeu a pena.


Sentiremos saudade. Lembraremos-nos sempre com alegria.


Com amor, lágrimas, alegria e saudade...


Ricardo Molina - São Paulo, 18 de Fevereiro de 2009. (01:00 am)

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Sombras de ninguém


Neste período de férias tive a oportunidade de viajar de carro. Saindo de São Paulo, passei por Minas Gerais, Bahia até chegar em Sergipe.



O percurso de tão belas paisagens se misturam com a miséria encontrada à beira da estrada: homens e mulheres, jovens e idosos, crianças e bebês, todos famintos e desesperados por um ajuda que os faça esboçar algum sorriso.



Certa vez, em palestra do jornalista Cal Francisco, ouvi um radiodocumentário produzido por ele que denunciava a miséria das estradas da Bahia, em que pessoas de diferentes idades, inclusive crianças, imploravam por qualquer moeda ou pedaço de pão que fosse atirado de dentro de carros e caminhões na direção deles.



Foi isso que vi. Essas pessoas passavam a mão na barriga e estendiam a mão pedindo esmolas aos carros e caminhões que passavam a 120 km por hora nas estradas esquecidas. Eles se instalavam em "choupanas" feitas com palha e folhas largas de árvore, e lá, ao que tudo indica, passavam o dia todo, em família, esperando uma ajuda, ou, quem sabe, torcendo para que um carro ou caminhão tivesse algum problema no motor e, então, pudesse enxergá-los.



Pior do que presenciar é sentir-se impotente. Como ajudar pessoas que estão à beira de uma estrada que não se conhece as curvas, que a velocidade mínima é 80 km por hora e que não como deduzir em que locais eles estarão!



Isso passou pela minha mente enquanto observava essas famílias. Me senti como alguém que se compadece mas que nada faz. Me senti como sempre, pois, a ajuda e a real preocupação com o aflito não depende de uma imagem ou de uma realidade que choque meus princípios morais.



Considero que denunciar injustiças como essa que vi nas minhas férias em família, e tantas outras que esquecemos no dia-a-dia do próprio umbigo, é muito mais do que constranger-se ao ver a dor alheia. Ela deve nascer de uma consciência banhada de coração dedicado e desinteressado de troca e de recompensas.



Depois que passamos a parte da estrada em que vimos essas pessoas, a paisagem bela do percurso voltou a nos encantar, e logo esquecemos da dor que, embora seja um sentimento abstrado, foi possível ver caracturado.



Agora lembro-me com força de todos os que vi na estrada, mas assim como para tantos que nem sabem que eles existem, tenho a sensação de serem sombras, sombras de ninguém.